A arte da adaptação: como o eSports prosperam em meio ao caos e mudanças
No eSports, o caos não é um problema, é uma característica. Títulos alcançam o estrelato rapidamente, apenas para cair no esquecimento logo em seguida. Uma única atualização pode transformar campeões em azarões da noite para o dia. Os fãs são insaciáveis. Eles querem mais: mais ação, mais acesso, mais autenticidade. E, em meio a essa tempestade de expectativas, sobreviver exige mais do que talento. Exige adaptabilidade.
Para Daniel Finkler, a adaptabilidade não é apenas uma estratégia de negócios — é um estilo de vida. Desde seus primeiros dias como gamer até liderar uma das organizações de eSports mais proeminentes da Alemanha, Daniel aprendeu a abraçar a incerteza e usá-la como catalisador para o crescimento. “Nada é certo”, diz ele, um mantra que ressoa não apenas no eSports, mas em qualquer setor movido pela transformação.
Em uma conversa envolvente durante o recente evento SiGMA Europa, em Malta, Daniel compartilhou suas perspectivas sobre como navegar no cenário sempre mutante dos eSports. Sua trajetória exemplifica resiliência, criatividade e adaptação. Ele trabalhou em iniciativas de saúde mental, testemunhou a ascensão dos jogos mobile, fomentou comunidades e explorou o futuro dos eSports em eventos como a SiGMA.
O salto no eSports com paixão e persistência
Para Daniel Finkler, a versatilidade não é apenas um jargão corporativo — é a base de tudo o que faz. Muito antes de liderar uma das principais organizações de eSports da Alemanha, ele era um jovem gamer fascinado pela competição e conexão. Desde que se juntou a sua primeira equipe amadora de Counter-Strike, em 2003, descobriu a emoção do trabalho em equipe e o desejo de melhorar. No entanto, como os próprios jogos, o caminho à frente era tudo menos previsível.
É fácil esquecer o quão arriscado foi o salto de Daniel para os eSports. Com um mestrado em administração de empresas e uma empresa familiar de TI esperando por ele, o caminho mais seguro era evidente. No entanto, ele teve uma realização: “Mesmo com ótimas ofertas, não me via feliz nessas funções. Minha paixão estava nos jogos.”
Então, ele fez uma escolha ousada. Informou seus pais de que queria apostar nos eSports, consciente dos desafios que viriam. No início, em Mousesports, Daniel escreveu repetidamente para um ex-gerente, oferecendo-se para trabalhar de graça. Ele até financiou suas próprias viagens a eventos, aparecendo sem aviso prévio para se apresentar diretamente. “Afirmou: “Faço qualquer coisa — mídia social, marketing, o que for necessário.’” Sua determinação eventualmente lhe garantiu um lugar na organização, onde começou como gerente de mídia social e marketing. Com o tempo, assumiu mais responsabilidades, incluindo a gestão de equipes de jogadores de alto nível competindo globalmente.
Entre esses jogadores estava Niko Kovac, agora amplamente considerado um dos melhores jogadores de Counter-Strike do mundo e estrela da G2. “Trabalhar com alguém como Niko me mostrou o que é necessário para competir no mais alto nível”, diz Daniel. “É uma questão de habilidade, sim, mas também de mentalidade e preparação.”
Essa disposição para correr riscos, adaptar-se e aproveitar oportunidades tem sido a marca registrada de Daniel. Hoje, ele lidera os Jogos Internacionais de Berlim (BIG), em uma indústria onde a mudança é a única constante. Sua história mostra como resiliência e adaptabilidade podem levar ao sucesso no mundo sempre em evolução dos games.
Como o eSports se mantém à frente em um mundo em constante mudança
Para equipes, jogadores e líderes nos eSports, ficar parado não é uma opção. A indústria está em constante evolução, com novos jogos, expectativas mutáveis dos fãs e a dominância das publishers redesenhando o cenário em alta velocidade. Para Daniel, a chave para se manter à frente é saber o que se pode controlar — e fazer isso valer a pena.
“As desenvolvedoras têm todo o poder”, explica Daniel. “Elas usam as equipes como ferramentas de marketing, e embora desejemos uma colaboração mais profunda, a dinâmica ainda é muito unilateral. As desenvolvedoras ditam o ecossistema, deixando as equipes para reagir às suas escolhas. Uma única atualização, uma mudança na mecânica de um jogo ou um novo título pode perturbar ecossistemas inteiros.”
Apesar disso, Daniel vê oportunidade na incerteza. “Você foca no que pode controlar”, diz ele. “Para nós, isso significa comunidade, criatividade e construir um negócio sustentável.” A abordagem de adaptabilidade da organização é multifacetada. BIG não é apenas uma equipe competitiva — também é uma agência de eSports completa, consultando em campanhas e organizando bootcamps para aspirantes a jogadores.
Em Berlim, a BIG transformou sua sede em um centro para equipes profissionais e fãs. “Construímos um espaço de 1.200 metros quadrados onde gamers podem se reunir”, diz Daniel. “Começamos com bootcamps para equipes, mas agora estamos expandindo para experiências de fãs. É sobre tornar os eSports mais acessíveis e pessoais.”
Outro aspecto estratégico crucial é a diversificação. As equipes de eSports, ao contrário dos clubes esportivos tradicionais, operam em um ambiente financeiro de alto risco, onde fontes de receita consistentes são difíceis de garantir. “Nós nos diversificamos na produção de merchandising e até na criação de conteúdo”, explica Daniel. “Trabalhamos com influenciadores para expandir nosso alcance e garantir que não estamos dependendo de uma única fonte de receita.”
Essa adaptabilidade se estende à forma como a BIG interage com patrocinadores. Parcerias com marcas globais como L’Oréal e Movember destacam a capacidade da organização de se alinhar com causas significativas enquanto se conecta com os fãs de maneira mais profunda. “É sobre mostrar ao mundo que os eSports não são apenas jogos”, diz Daniel. “É uma plataforma para impacto.”
A batalha invisível nos eSports
Por trás das luzes brilhantes dos torneios de eSports e o rugido das multidões virtuais, existe uma realidade que muitos ignoram: os desafios de saúde mental enfrentados pelos jogadores, equipe e fãs. Para Daniel, isso não é apenas uma preocupação corporativa — é algo pessoal. “O burnout é real,” ele diz. “Já vimos acontecer. A pressão sobre jogadores e equipe é imensa, e isso precisa ser levado a sério.”
Ao contrário dos esportes tradicionais, onde os atletas de topo muitas vezes ganham o suficiente para se aposentarem confortavelmente, a maioria dos jogadores profissionais de eSports não ficará financeiramente tranquila para o resto da vida. “Nos eSports, a menos que você esteja no topo, no topo mesmo, precisa planejar uma carreira após os jogos,” explica Daniel. “Cada torneio importa, e se você não performar bem, alguém pode ocupar seu lugar. É uma panela de pressão, e tem seu preço.”
Daniel está lidando diretamente com essa questão, liderando iniciativas focadas no bem-estar de jogadores e equipe. “Investimos em psicólogos esportivos e treinadores de desempenho,” ele diz. “Eles ajudam os jogadores a gerenciar o estresse, desenvolver foco e construir a resistência mental necessária para competir no mais alto nível. Mas não é só sobre o jogo — é sobre criar equilíbrio. Incentivamos os jogadores a terem vidas fora dos jogos, para evitar o burnout.”
O compromisso de Daniel com a saúde mental vai além da equipe da BIG. A recente parceria com Movember e L’Oréal destaca a saúde mental dos homens, um tema que frequentemente fica nas sombras. As estatísticas são chocantes. “75% dos suicídios são de homens,” Daniel aponta. “Os homens vivem de cinco a seis anos a menos que as mulheres, em média. Estas são realidades que precisamos enfrentar.”
A campanha Movember foca em aumentar a conscientização em três áreas-chave: saúde mental, câncer testicular e câncer de próstata. “Não é só sobre falar — é sobre agir,” diz Daniel. A BIG tem usado sua plataforma para criar campanhas que ressoam com seu público predominantemente jovem e masculino, conectando-os com recursos e iniciando conversas que podem salvar vidas.
Esse foco na saúde mental não é apenas uma obrigação moral — é um reflexo das pressões mais amplas dentro dos eSports. “O mundo está mudando tão rápido,” observa Daniel. “A vida moderna e a IA nos pressionam enormemente a nos adaptar. Ninguém gosta de sair da sua zona de conforto, mas no mundo de hoje, é essencial.”
Para Daniel, abordar a saúde mental não é apenas sobreviver ao presente. Trata-se de construir um futuro sustentável. “Os eSports são uma plataforma incrível,” ele afirma. “Podemos nos conectar com milhões de jovens e fazer uma diferença real. Se pudermos usar isso para apoiar a saúde mental e o bem-estar, então estamos fazendo mais do que vencer jogos. Estamos vencendo onde realmente importa.”
Próximos passos
À medida que o eSports evolui, as oportunidades e desafios também mudam. Para Daniel, o futuro é ao mesmo tempo empolgante e incerto. “Em cinco anos, a indústria pode ser completamente diferente”, ele comenta. “Jogos relevantes hoje podem não existir no futuro. Mas é isso que torna o eSports tão emocionante. Está sempre mudando.”
Um campo onde Daniel vê um crescimento significativo é o dos jogos mobile. “Já é enorme”, ele diz, “mas em cinco anos, acho que dominará ainda mais. Para as equipes, trata-se de estar nos títulos certos no momento certo e garantir que estamos alcançando o público onde ele está.”
Contudo, manter a relevância não se resume a escolher os jogos corretos. Também é fundamental aprofundar a conexão com os fãs e fomentar um senso de comunidade. O compromisso da BIG com suas raízes alemãs é central para sua identidade, mesmo competindo no cenário internacional. “Representamos a Alemanha e queremos ser o melhor time alemão”, Daniel explica. “Isso significa permanecer fiel aos nossos valores, mesmo quando é difícil.”
Para Daniel, o futuro do eSports não é apenas sobre os jogos, mas também sobre a infraestrutura que os sustenta. Ele espera mais colaboração entre desenvolvedoras, equipes e organizadores de torneios para criar um ecossistema sustentável. “Atualmente, as equipes estão à mercê das desenvolvedoras”, ele diz. “Com melhores parcerias, poderíamos construir algo mais estável e recompensador para todos os envolvidos.”
Daniel também defende a inclusão do eSports em eventos globais, como os Jogos Olímpicos. Embora a Olympic Esports Series tenha sido um passo à frente, ele acredita que os títulos mais populares, como Counter-Strike, merecem um lugar nos Jogos Olímpicos principais. “eSports é esporte”, afirma com convicção. “Trata-se de competição, dedicação e ser o melhor. Excluir certos jogos devido a estigmas é uma oportunidade perdida de realmente abraçar essa comunidade.”
Ele traça uma comparação com disciplinas olímpicas tradicionais como tiro, boxe e artes marciais, que são celebradas por suas habilidades e tradições, mesmo envolvendo combate físico ou armamento. “Se podemos aceitar esses esportes como parte do ethos olímpico, por que não o eSports?” questiona Daniel. “Counter-Strike e outros títulos exigem o mesmo nível de foco, estratégia e disciplina. Eles merecem um lugar nesse palco.”
Daniel também destacou o impacto crescente da IA em jogadores e organizações. “A IA está mudando tudo”, ele observa. “Desde estratégias nos jogos até ferramentas de melhoria para os jogadores, é algo com que precisamos nos adaptar constantemente.” A IA não é apenas uma ferramenta para aprimoramento individual, ela está remodelando como as equipes analisam adversários, otimizam estratégias e interagem com fãs em tempo real.
Apesar de todo o seu otimismo, Daniel reconhece os desafios. Embora o eSports esteja em ascensão, as realidades financeiras são desafiadoras. Mesmo organizações de alto nível, como a Guild Esports, apoiada por celebridades como David Beckham, têm lutado para se manter. “As equipes operam com margens de lucro extremamente apertadas”, diz Daniel. “É preciso mais do que sucesso nas telas. É necessário diversificação e sustentabilidade fora delas.”
Networking em eventos como a SiGMA pode parecer algo natural para alguém na posição de Daniel, mas ele aborda essa questão de forma diferente. “Não sou um extrovertido nato”, ele admite. “Prefiro planejar minhas reuniões com antecedência. Trata-se de fazer conexões significativas, não apenas ser visto. Em eventos como a SiGMA, esse foco me ajuda a alcançar objetivos claros.”
Olhando para o futuro, Daniel vislumbra a BIG como uma representante global do , enraizada em sua comunidade, mas alcançando públicos ao redor do mundo. “Quero que sejamos a ponte entre a Alemanha e o mundo, mostrando o que nossos jogadores e fãs podem alcançar”, ele diz. “Mas, mais do que isso, quero que sejamos uma força para o bem — usando o eSports para inspirar, conectar e fazer a diferença.” À medida que o eSports evolui, uma coisa é certa: aqueles que se adaptarem definirão seu futuro. Com líderes como Daniel Finkler no comando, a indústria não está apenas pronta para crescer, mas também para inspirar uma nova geração de fãs, jogadores e visionários. O jogo, como sempre, evolui — mas para os que estão dispostos a se adaptar, o futuro é ilimitado.
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